segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A SEMPRE FÉRTIL IMAGINAÇÃO POETAL

A SEMPRE FÉRTIL IMAGINAÇÃO POETAL
Marcial Salaverry

Será a poesia algo vivido, ou apenas a fértil imaginação poetal? Essa é uma pergunta que sempre domina a cabeça de quem lê uma poesia, ou seja, a dúvida que diz respeito à veracidade ou não do texto, se ele representa algo vivido, ou simplesmente imaginado, ou desejado.

Ao lermos uma poesia de amor, logo julgamos que quem a escreveu, está apaixonado, e a está dedicando a alguém a quem ama muito. Sempre procuramos ligar a poesia a um personagem real, e invariavelmente encontramos a musa ou muso a quem ela é dedicada, ou pelo menos julgamos encontrar.

Dificilmente atribuímos aquelas lindas palavras à imaginação poetal de quem escreveu, ao seu talento, à sua arte pelas letras.

Então se suas poesias falam de amor sensual, o poeta surge a nossos olhos como alguém que conhece todas as artes do amor, e que conhece mil leitos de amor. E que todas as cenas de amor que escreve, são aventuras realmente vividas, e assim, esquecemo-nos de louvar o talento criativo do autor. Sua imaginação sempre fértil, que pode criar as mais sensuais situações, e que ao invés de ser um amante insaciável, é simplesmente alguém que gosta de escrever, e que vai buscar em seu imaginário todas aquelas cenas de paixão ardente. Ou não...

De mesma forma quem escreve poemas amargos, relatando tristezas da vida, pode ser alguém cuja imaginação trabalha nesse sentido. E é uma pessoa feliz. Ou não...

Palavras de um poeta, colhidas por meu guru L’Inconnu:

"Pois nossa imaginação faz trabalhar a imaginação de quem lê, que sempre fica imaginando que as situações e os amores criados em nossa imaginação não são imaginados... São reais."

Imagine só como seria se fossem reais todas as cenas de amor já descritas em tantos poemas de amor...

A respeito da imaginação poetal, cabe dizer que os poetas, não seriam nada sem saber usar a imaginação, pois é preciso saber usá-la na maioria das vezes, pois os poemas sempre falam do amor, da amizade ou de coisas que são belas e que gostariam que pudessem ser reais. E muitas vezes, mesmo relatando fatos reais,cabe um pouco de sua imaginação, sempre ativa...

Claro que sempre se pode levar a imaginação para o lado bom, de sonhos que podem ser realizados...

Na realidade, a imaginação poetal reflete a alma do poeta, e não necessariamente sua vida pessoal. Nem sempre aquele que escreve sobre amor é um grande amante. Nem sempre aquele que exalta a felicidade e a alegria da vida é uma pessoa feliz. Nem sempre aquele que escreve sobre loucuras da vida é um insano. Nem sempre aquele que fala muito de tristezas, de dramas da vida, é uma pessoa triste e infeliz. Nem sempre aquele que escreve sobre dor de cotovelo é um desencantado da vida, pois pode ser uma pessoa muito feliz. Como também aquele que escreve sobre a Natureza e suas belezas pode ser um chamado “rato de arranha-céu”. Vai lá saber o que a alma do poeta quer exprimir no momento da inspiração, ou da piração.

É o interior do poeta que fala. É sua alma, e sua criatividade. Ele cria as situações, e seu grande mérito reside no fato de que suas palavras conseguem trabalhar o imaginário dos leitores, levando-os a sentir como reais todas aquelas palavras, chegando mesmo a sentir que são a si destinadas. E não deixam de sê-lo. É a imaginação poetal, despertando a imaginação “leitoral”.

Mas é claro que muitas vezes não é apenas a imaginação. Claro que existem musas e musos.

Claro que existem situações vividas. E é exatamente aí o gostoso da coisa toda. Onde estará apenas a imaginação poetal? Onde estará sua vida sendo contada? A quem tal poesia será dedicada? A mim? A você?

E nesse imaginário conflito de imaginações, vamos trabalhar nossa imaginação, imaginando para nós UM LINDO DIA.